Eu nunca me enxerguei do completamente, sempre tive a vaga imagem das qualidade tórridas e dos defeitos sórdidos de maneira rasa e insuficiente. Valorizei sempre o meu espelho borrado, desviando das manchas do tempo e me focando nas partes limpas, vislumbrando superficialmente algo que na verdade já nem mesmo refletia fielmente. Não que eu tenha ocultado minha própria imagem de mim, mas acredito que alegorizei de forma exorbitada, e tornou-se cada dia mais impossível acreditar que, enfim, minha alegoria de um carnaval de 93 tão démodé como calças boca de sino era definitivamente tudo o que se tinha para ver.
Tinha noção do quanto eu era radioativo, e confesso que sempre achei isso o máximo. Gostava de ver como as peles ardiam pela nocividade da minha essência e acreditava que isso era o ápice da minha auto afirmação como alguém absolutamente denso. Na verdade, reparei que essa corrosão toda que causava, era tão lasciva quanto qualquer acido maldito que inventaram pra sanar manchas de pele, e que meus efeitos eram tão superficiais que paravam de reagir no terceiro mês de uso.
Sempre tive orgulho da minha intensidade. Acho incrível essa minha capacidade de mergulhar no mais fundo do oceano sem medo nenhum de perder o ar. A verdade é que essa história tem mais haver com a minha paixão pela apneia, ou pela autoflagelação e não necessariamente com profundidade das coisas que vivo. Não quero pagar pra ver, simplesmente vejo, e depois penso, ou nem penso e sinto. Sofro, sinto, não vejo.
Estou fundido a uma outra esfera. Algo como uma persona que já não é nem ocasionalmente o que eu realmente digo ser. Estou me vestindo diariamente com aquela fantasia do carnaval passado, e o pior, o carnaval passado parece ser o meu carnaval de hoje. Já não separo realidade de maturidade, porque ela nunca teve nada a ver com a ficção, mesmo eu ignorando esse fato. Sou eu o responsável por esse enredo abrupto de dramalhão polonês que me trança nesse emaranhado de confusões, intensidades, atos indesejáveis, inesperáveis e porque não completamente ridículos e sem sentido, que SÓ eu tenho o poder de desfazer simplesmente sendo eu.
Ser eu não é algo que vem ao caso, não quero mais uma vez me agarrar a outro personagem desviado composto por fragmentos das mais diversas histórias que já passei. Sou um lego, na verdade. Tenho peças variadas, tanto na forma quanto na cor. Só que nenhuma dessas minha peças vão compor interinamente que seja, a minha necessidade, ou a necessidade dos outros, de ser ou sermos apenas o que se deve ser.
A verdade é que, os meus personagens devem ficar aqui, e preciso mesmo limpar o meu espelho. Se irei mais uma vez desenhar as minhas linhas e tramas como de costume, não sei. Sei que já é passada a hora de desmascarar me por inteiro e simplesmente reformular uma essência semimorta.
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