Mentalmente tenho traçado todo o meu caminho, os lugares que passei, pessoas que conheci, as bocas que experimentei, os abraços que recebi e dei, os temperos que provei, os olhares que desbravei, os cheiros, as dores, as alegrias, os ódios, os sorrisos, as ruas, as praias, as músicas, os gestos, as atitudes e a falta delas, os apertos de mãos, as broncas, os chiliques, as conquistas, os nãos, os textos, as camas, as intensidades, os efeitos, o desnecessário, as promiscuidades, as mentiras, as desavenças, as inimizades, os amores, e todas as minhas aleatoriedades.
Dessa minha biografia mental descobri tanta vida em tanto tempo, descobri tantas vidas em uma única vida, e percebo que toda essa rota, cada curva, cada centímetro percorrido e cada passo dado pra traz foi estrategicamente bem pensado.
Das coisas boas guardo as lembranças boas, das coisas más guardo tudo ou quase nada do que não aprendi. De tudo um pouco tenho vontade de me desfazer, de reescrever, mas do que me adianta apagar tanta vida se foram exatamente esses caminhos que me trouxeram até esse lugar que ainda não sei onde é?
Às vezes sinto uma vontade de confrontar todos esses caminhos, coloca-los cara a cara, só pra poder mais ainda me confundir, ou sei lá, quem sabe compreender boa parte do que tudo isso me fez ser. Tenho vontade, sim, eu tenho a vontade de trazer tudo o que me fez bem pra cá, pro meu lado, para a minha possessividade desmedida. Tenho vontade de colocar todo esse passado na memória externa, e trocar o meu cartão sempre que troco a minha carcaça. Tenho vontade de pessoas, SIM DE PESSOAS, que cruzaram minhas ruas, esquinas, becos, travessas.
Depois de todo esse feedback atemporal chego a conclusão de que a conclusão nenhuma cheguei, a não ser a de que esse lema todo de “individualizar-se” nada mais é do que uma imensa preguiça de resgatar tudo isso que um dia foi meu.
Um comentário:
quando a gente se pega pensando no começo e faz toda uma revisão de cada pequena coisinha, cada detalhe em nossas vidas, parece que algumas coisas são tão insignificantes né, e outras que nesse momento nao significam nada, passam a ter certa relevancia.
adorei o seu devaneio escrito, as vezes escrever uma tempestade cerebral assim, expressa mais do que se é realmente possivel expressar. e se é que eu entendi, somos complexos demais pra concluir neh! rs minha admiraçao! Joao Pedro
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