Eu sou o maior falsário de amores
que existe.
Adoro os amores inventados de
Cazuza, as rosas que não falam de Cartola e toda a melancolia de sonhos de uma
noite de verão do amor seja lá qual for.
Sempre delineei minhas paixões,
seus itinerários e rotas, seus prazos e fluxos. Seu tempo, sua sina, sua cor e
seu cheiro. Sempre contive o que eu queria, o que eu podia, e o que nem
sonhava.
Nunca amei de verdade. NUNCA.
Não sabia da falta que os olhos
faziam, ou do tremor que sentia nas pernas, nem se quer imaginava na pele da
face ruborizar por apenas um olhar. Nunca havia comido as borboletas com batata
doré que servem no botequim dos corações domados. Nunca pensei em me agradar
com as coisas simples, com as palavras banais e com os sorrisos, ah os sorrisos
largos e folgados que me desregulam no primeiro instante.
Jamais admiti abdicar do sono só
pra observar outrem dormir, contar os batimentos, ouvir a respiração. Nunca
senti tanta saudade de hábitos e manias insuportáveis e que nem ainda conheço.
Nunca senti tanta falta dos domingos em família que não tivemos, dos sábados no
fogão ousando em nossa cozinha experimental, de esfregar o maço de louros em
sua pele pra te ver se irritares, e depois me beijar com os lábios lambuzados
de baunilha e pimenta doce.
Nunca sonhei em envelhecer,
sentir o peso do tempo em meu corpo. Me imaginei segundos atrás vivendo essa e
duas ou três ou infinitas vidas só pra observar cada ruga da sua face.
Nunca pensei em sacrifícios,
sejam eles da escala que forem. Hoje, convicto sei de que sacrifício nenhum
desse mundo é factível o suficiente para enxergar a satisfação no sorriso de
canto de lábio, quebrado pro lado esquerdo.
Aprendi a ser social, a encantar
sem menos, a respirar sem força, a flutuar enquanto ando, a sentir e degustar e
me deliciar com um simples “oi” pronunciado pela língua certa.
Nunca acreditei no encontro de
almas, de vidas. Nunca achei que seriamos predestinados a ninguém. Sempre ri do
destino, e veja só.
“Será que te conheço desde a infância,
será que na infância eu parti? Para um mundo imaginado por você, ou por você o
mundo veio e a infância assim se foi?”
Vem que nossos sonhos ainda nem
desenhados foram.
Quero seu olho no meu, seu rosto
no meu, sua alma na minha, minha alma na sua. Fundir corpo, alma, coração,
vida, morte e eternidade.